Os próximos 24 de abril, depois desta terça-feira, serão diferentes. O Olímpico provavelmente não mais existirá. Será repassado à OAS, como um dos compromissos da parceria firmada entre a construtora e o Grêmio para o nascimento da Arena, a ser inaugurada em novembro. Foi exatamente nesta data, há 59 anos, que o Olímpico vivia seus dias de Arena, entre balões jogados ao céu e muito trabalho em meio à terra e ao concreto. Começavam ali oficialmente as obras do que viria a ser o atual estádio do clube.
Apesar de as obras terem início em 24 de abril de 1953, a busca por um novo lar mobilizava os gremistas há mais de década. Primeiro, tentou-se seguir atuando na Baixada, o famoso Fortim, casa tricolor desde 1904. Em 1938, alargou-se em 11 metros o gramado. Uma medida emergencial que pouco satisfez, já que a questão mais alarmante vinha das arquibancadas.
O pavilhão se tornara um cubículo. O futebol crescia, tornava-se profissional e cativava o povo. Assistir a partidas sob motos possantes ou carros de último tipo começava a ir na contramão dos tempos. Em domingos de grandes jogos, não raro pessoas eram impedidas de entrar. Sobrava paixão, faltava espaço. Espremido no bairro Moinhos de Vento, o estádio precisava mudar de endereço.
- O pessoal não estava mais satisfeito com aquilo que tinha - conta o Hélio Dourado, que, de espectador da construção do Olímpico em 1953, seria protagonista de sua remodelação e finalização do anel superior, de 1977 a 1980, como presidente do Grêmio.
O Grêmio pensara em duas alternativas até chegar ao local onde hoje descansa o gigante de concreto - cogitou-se a área do antigo Cine Castelo ou onde hoje está a Avenida Farrapos.
A Vila Caiu do Céu no caminho
A Vila Caiu do Céu no caminho
A oficialização da permuta da Baixada para a área do então novo estádio se deu em 1940, com o presidente Telêmaco Frazão de Lima, mas só no ano seguinte, já com Aneron Correa de Oliveira no comando, que se lançou a pedra fundamental no bairro Azenha. Em 1948, conseguia, enfim, a posse definitiva da chamada “praça de esportes”, medindo cerca de 75 mil metros quadrados. O próximo obstáculo era ainda mais grandioso, do tamanho da pretensão gremista.
Atendia por Vila Caiu do Céu, de nome sugestivo, já que os casebres se amontoavam como que por milagre divino. As moradias irregulares precisavam ser deslocadas para as obras. Aquela sobreposição de malocas e de gente, mais de mil casinhas, uma verdadeira cidade particular, desde cedo intrigou o pequeno Hélio, que passava duas vezes por dia na região em sua época de aplicado aluno do Ancheta.
Mal sabia ele que, um pouco mais velho, com seus 20 e poucos anos e perto de finalizar o curso de Medicina na UFRGS, seria tomado por outro sentimento ao passar pelo local. No lugar da curiosidade típica dos garotos defonte à rotina alheia, cresceria a ansiedade de um fanático torcedor que via a história emergir. Afinal, o projeto do arquiteto Plinio Oliveira Almeida, estava saindo do papel.
- Eu visitava as obras várias vezes, muita gente visitava - conta o ex-dirigente, hoje com 82 anos, e que recebeu da mãe professora a primeira carteira de sócio do clube aos 11 anos, em 1941. - E, mesmo muito jovem e começando a minha vida, contribuí, dei o meu dinheiro para ajudar.
Viagem ao Rio, e Getúlio entra no esquema
Mesmo com todas essas campanhas de arrecadação de verbas, estava faltando dinheiro. Para se ter uma ideia, os cálculos do orçamento inicial para a construção mal chegavam a dois quintos do que se realmente precisava. Eis que outras mãos gaúchas se estenderam, direto do Rio de Janeiro.
O presidente gremista, Saturnino Vanzelotti e o presidente da Comissão de Obras, Alfredo Obino, ficaram 20 dias na então capital federal. A ideia da viagem passava longe das tentadoras praias cariocas. O Grêmio precisava do governo federal para seguir sonhando com o Olímpico.
- Precisaríamos de Cr$ 25 mil para terminar o Olímpico. Não havia de onde tirar o dinheiro. Fomos à Caixa Econômica Federal, que colocou as dificuldades para o empréstimo de Cr$ 8 mil. Apelamos ao Dr. João Goulart. Por meio do então presidente Getúlio Vargas, conseguimos o financiamento - disse um aliviado Vanzelotti, em 1971.
Após os contratempos pré-obras, Hélio Dourado guarda de sua memória juvenil a velocidade dos trabalhos. E o foi, realmente. Antes, houve a já referida remoção da Vila Caiu do Céu, em 1951, além do desvio, a dragagem e a retificação do Arroio Cascatinha e ainda a movimentação de 80 mil cúbicos de terra da área a ser construída.
As obras em si duraram apenas um ano e cinco meses. Enfim, finalizava-se a primeira etapa do Estádio Olímpico. Havia um pavilhão social completo, 2 mil cadeiras cativas sob a marquise de 90 metros de comprimento, arquibancadas populares e tribuna de honra - capacidade total para 38 mil pessoas, o maior estádio privado do Brasil na ocasião.
- Havia esse sentimento na época, de ver os demais crescendo e a busca por evoluir no mesmo passo. Por exemplo, já havia o Maracanã devido à Copa (1950). Antes, o São Januário (estádio do Vasco) surgiu na década de 1940 como o maior da América do Sul. Uma grande ebulição - recorda Dourado.
O Grêmio, que rompia a marca dos 50 anos, que se profissionalizava e empilhava títulos regionais, além de ter expelido, em 1952, a inglória fama de time avesso a negros, agora podia também comemorar a sua mudança de endereço. Na inauguração do estádio, em 19 de setembro de 1954, venceu o Nacional, do Uruguai, por 2 a 0, dois gols de Vitor. Assim como o clube, o estádio não parou de crescer. Houve mais duas etapas decisivas de obras para o Olímpico alcançar o nível atual (de 1958 a 1971 e de 1977 a 1980). Mas isso já é outra história.
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